Olá Raquel, vi a tua crónica do P3 (tal como já vi muitas, umas melhores que outras) e não pude deixar de me perguntar: que idade terá a Raquel? Terá andado na faculdade? Se sim, que curso terá tirado? E que emprego terá? Trabalha na área para a qual estudou? Em que cidade terá crescido a Raquel e em que circunstâncias? Mas rapidamente percebi que nada disto interessa. Por isso, vou falar-te da minha experiência, pode ser que sirva para alguma coisa.
“Emigrei” em 2013 mesmo depois de acabar o Mestrado em Lisboa. Nem sei bem como ou quando é que me tornei emigrante oficialmente; comecei por fazer um estágio na Holanda ainda em parceria com a minha Universidade. Desde então nunca mais voltei a viver em Portugal. No entanto, não larguei família, amigos, cafés, casamentos, Natais nem outras “festas várias”. Visito família e amigos regularmente (e eles vêm ver-me também – eu sei, chocante! Onde é que já se viu visitar um emigrante), bebo copos em festas da aldeia e nos Santos em Lisboa, viajo regularmente para conhecer novos países (sim, com alguma ginástica também) e sei lá. Sou pessoa dos meus E pessoa do mundo.
As cumplicidades mantêm-se com esforço e chamadas de voz e de vídeo que duram horas e, claro, tempo de qualidade investido em reuniões frequentes, cá e lá. Fiz novos amigos e trouxe-os para “aquela mesa tão portuguesa” onde comemos sardinhas bacalhau e eles levaram-me para as deles onde experimentei tortilla, bratwurst, vodka da boa e mais umas quantas coisas que não sei pronunciar (mas até eram fixes).
Nem tudo são rosas, mas olha, é a vida. Acho um bocadinho injusta a forma como nos retratas, Raquel, mas não te posso condenar porque não sabes o que é ser emigrante. Não se quebra nada, tudo se transforma e expande, principalmente a nossa visão do mundo e das coisas. Tu dizes que a maior parte de nós vai voltar, talvez, eu espero que sim. Se encontrar em Portugal um emprego que rivalize o que sei que posso ter cá fora, nem falo de dinheiro, mas de respeito. Se o teu empregador te respeita, és uma sortuda e eu fico feliz que tenhas conseguido alcançar os teus objectivos por aí. Pode ser que eu tenha a mesma sorte mereça o mesmo em breve.
Nada disto me faz melhor ou pior do que tu. Acho eu, o que é que tu achas? O que vi e aprendi fora, pode ser o mesmo que tu viste e aprendeste aí. Na minha opinião (que vale o que vale, enfim), a única coisa que não conseguiste aprender ainda é a não julgar quem faz escolhas diferentes das tuas. Mas como tu dizes, pode ser que um dia, quando eu voltar, não sejas a mesma.
Beijinhos,
Flávia
Flávia concordo tanto com tudo o que escreveste!
Só quem é emigrante sabe, só quem é emigrante sente!
E acho que mais não vale a pena dizer, porque quem não o é, não irá entender!
Beijinhos
LikeLiked by 1 person
Olá Soraia. Realmente é difícil explicar este tipo de coisas a quem nunca passou por elas mas acho que devemos tentar (ou ir tentando). Tal como escrevi no comentário em resposta à Joana, a partilha de realidades diferentes pode ser bastante positiva para ambos os lados, desde que haja uma mente aberta (e isto é que é importante), saímos todos a ganhar. Beijinhos
LikeLike
Ah bem dito Flavia. Tambem sou imigrante e devo admitir que ja tinha saudades de um bom ‘Toma!’ quer dizer agora e ‘Burn!’
LikeLiked by 1 person
Ahah obrigada, Luis!
LikeLike
A resposta necessária! A um artigo redutor! Obrigada!
LikeLiked by 1 person
Obrigada Marta!
LikeLike
Realmente, será que há mais pessoas como a Raquel que acham “até esses vão regressar ao conforto de ter a família por perto como rede de suporte para ajudar a criar os mais novos, para, de alguma forma, incutir nos mais novos a relação familiar que eles próprios decidiram quebrar um dia”?? Afinal quem se acha a Raquel para dizer que quebramos a relação familiar? Que ridícula!! E sim, poderemos voltar. Eu quero voltar!! Por muitas razões que a Raquel deve desconhecer! Parabéns Flávia! Gostei muito do teu texto!
LikeLiked by 1 person
Olá Joana. Acredito que haja muito mais como a Raquel, aliás, basta ver algumas das respostas ao artigo no Facebook ou no site. A ignorância em relação à nossa realidade é evidente, cabe-nos a nós partilhar estas experiências que fogem à regra (que na verdade não fogem porque emigração sempre existiu mas pronto), talvez no futuro sejamos um povo menos hipercrítico e mais compreensivo. Obrigada pelo feedback!
LikeLike
Obrigada Flávia…
Cumprimentos da Suécia!
LikeLiked by 1 person
Obrigada eu, Mafalda. Cumprimentos de Espanha 🙂
LikeLike
Adorei a tua resposta.
Cunprimentos do Reino Unido.
LikeLiked by 1 person
Hola de Espanha 😉 Obrigada Ana!
LikeLike
Perfeito Flávia, muito obrigada e cumprimentos da Holanda 😉
LikeLiked by 1 person
Obrigada D. Silva! Beijinhos para a Holanda que adoro 🙂
LikeLike
Gosto tanto! So ha uma coisa que ninguem fala…. das lagrimas em silencio limpas antes de uma chamada skype para desviar a tristeza da saudade…. os suspiros na hora de ir para o aeroporto. Emigrante para tantos significa a ganancia de querer mais dinheiro… (es emigrante, es rico)…. ai se soubessem! Mas nao sabem, e quem nao vive pensa que sabe mas nao faz a menor ideia.
LikeLiked by 1 person
Olá Anaisa. Ui, quantas e quantas lágrimas.. Mas o que não nos mata faz-nos mais fortes, não é? Quando chega a hora de ir, pensa na volta. Não há nada como aterrar em Portugal, sair pelas portas do aeroporto e sentir que chegámos a casa. Mesmo que tenhamos mais casas espalhadas pelo Mundo, a Portuguesa há-de ser sempre a primeira 🙂
Beijinhos
LikeLiked by 1 person
Estou a bater palmas à tua resposta, e assino por baixo!
Quem fala sem saber o que é na realidade ser emigrante devia pensar antes de abrir a boca.
Sai de Portugal em 2013, mantenho os mesmos amigos e a minha família está sempre presente, como se estivesse em Portugal! Fiz parte de bons momentos, fiz parte também dos muitos maus momentos que aconteceram, e acho que de certa forma ainda se sofre mais por não estarmos tão perto.
Não tenho mar, posso não ter tanto sol ou calor, a cerveja não tem gás e as sardinhas e as castanhas nem existem, mas ganhei outras experiências, cresci, abri as minhas portas e a minha mente, vou conhecendo o mundo (a fazer alguma ginástica, atenção!! Ser emigrante não é sinonimo de ser rico, como muito boa gente pensa), e se um dia voltar ao meu cantinho em Portugal vou ver o mundo e o meu país com outros olhos!
LikeLiked by 1 person
Obrigada! É isso mesmo, Ana. Pode ser que se/quando voltarmos Portugal nos veja com outros olhos também 😉
LikeLike